sexta-feira, 28 de junho de 2019

A banalidade do mal

“Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo”
Ben Kingsley interpretando Adolf Eichmann em Operação Final. (Foto: Divulgação)
A filósofa alemã, de origem judia, Hannah Arendt, escreveu sobre política, a dignidade humana, direitos humanos, dentre outros assuntos. Foi considerada uma das pessoas mais influentes do século XX.


Na década de 60, após a Segunda Guerra Mundial, Hannah ficou extremamente conhecida por uma das suas obras mais polêmicas, chamada “Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal”.
Arendt acompanhou o julgamento de Adolf Eichmann, um nazista que estava sendo condenado por identificar e transportar judeus para os centros de concentração, responsável, então, pela logística no extermínio de milhões de judeus.
O que mais chamou a atenção da filósofa, foi que ao ouvir a declaração de Eichmann em seu julgamento, ela esperava ver um monstro, sem coração, sem qualquer senso de humanidade, mas foi surpreendida ao se deparar com um homem simples, até mesmo, simplório, funcionário público, que apenas executou ordens transmitidas pelos seus superiores. O objetivo desse homem não era destilar o mal, mas ser bem-sucedido no seu trabalho e, cheio de expectativa, era incapaz de refletir sobre a repercussão de seus atos.
Talvez o conceito central sobre a Teoria da Banalidade do Mal está no fato de que a maior expressão do mal se consubstancia numa vida não refletida, quando as consequências das ações e a rotina tiram do ser humano a capacidade de refletir.
O filósofo clássico, que marcou a história do pensamento ocidental, Sócrates, disse “uma vida sem questionamento não possui nenhum valor”. Isso não significa que a vida perdeu o valor, mas que o valor dela torna-se imperceptível.
Mas, o que Arendt, influenciada pelos pensamentos socráticos, queria dizer sobre “refletir”? De acordo com a etimologia da palavra, “refletir” significa literalmente “dobrar-se sobre si mesmo”. Quando o homem vive uma vida automática, robótica, frouxa, onde há esperança sem sentido (aqui me refiro à direção e não propósito), ele pode ser levado a conhecer a maior expressão do mal: a incapacidade de identificá-lo.
Há alguns dias, vimos cenas cruéis de 21 cristãos coptas sendo assassinados pelo Estado Islâmico e agora temos notícias de que 220 cristãos foram sequestrados por esse grupo terrorista.
Mas, a pergunta é: Qual é a grande diferença entre o mal praticado por eles e o que vemos todos os dias nos noticiários de TV? Qual é o limite para a tolerância? Existem homens maus ou todos nós somos capazes de praticar qualquer espécie de mal? Somos autores do mal ou vítimas dele?
Com isso, gostaria de refletir na passagem de Jesus Cristo com um jovem rico, que O reconhece como mestre, mas não como Cristo. E a resposta de Jesus, em Lucas 18.19, foi “‘Por que você me chama bom?’, respondeu Jesus. “Não há ninguém que seja bom, a não ser somente Deus”.
Jesus esclarece àquele homem que não somos capazes de praticar qualquer ato de bondade por nós mesmos e que o homem sem Deus é essencialmente mau. Ou, até mesmo, o rei Davi temendo conhecer a banalidade do mal, pede a Deus, no Salmo 139.24; “E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno”. O rei sabia o que seu coração, sua mente e seu ímpeto era capaz de realizar e somente Deus poderia levá-lo a compreender que o mal estava à espreita e desejava dominá-lo.
Então, o que nos difere de um assassino, de um participante do Estado Islâmico, de um pedófilo, de um ladrão? Essa resposta não está em nós, mas em Deus. O que nos torna diferentes de todos eles é a Graça. Somos capazes de fazer o mesmo ou pior. Como disse o apóstolo Paulo, em Efésios 2.8, “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus;”.
Paulo sabia que não podia confiar em si mesmo “Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo” (Romanos 7.19), mas sabia que em Cristo somos libertos do domínio do mal, mas um dia estaremos livres da presença do mal. Não é uma questão de natureza, mas de quem está no controle. Sejamos dominados pelo Espírito Santo, para que nos revele o mal em nós e nos guie.
Andrei Alves é pastor de discipulado da Igreja da Cidade em São José dos Campos e diretor executivo do Instituto Propósitos de Ensino. Casado com a pastora Esther Alves e pai de Daniel, Gabriel e Miguel. Graduado em direito e pós-graduado em Direito do Trabalho. Mestre em Liderança Pastoral (MDiv). Graduando em Pedagogia e pós-graduando em Educação Moderna pela PUC do Rio Grande do Sul.


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