Israel Folau de 30 anos, membro da Assembleia de Deus, laureado como o melhor jogador de Rugby Union australiano em três dos últimos cinco anos.
Imagine se o principal jogador de futebol alemão da atualidade usasse seus perfis nas redes sociais para dizer que destino dos homossexuais é o inferno. E que a Uefa e a seleção da Alemanha, por conta dos comentários, o suspendessem do futebol de maneira permanente. É exatamente o que está acontecendo no rugby da Austrália, cuja posição na modalidade é semelhante a dos alemães no futebol. De quebra, acirrou a discussão sobre liberdade de expressão e religião no país.
O atleta em questão é Israel Folau, de 30 anos, laureado como o melhor jogador de Rugby Union australiano em três dos últimos cinco anos. Ninguém recebeu a honraria mais que ele.
E não é só isso: além de ser o quarto maior pontuador de tries em todos os tempos dos Wallabies (como é chamada a seleção nacional), semana passada se tornou o maior pontuador de tries da história do Super Rugby, uma espécie de Libertadores da modalidade (mas como se a Libertadores fosse mais importante que a Liga dos Campeões da Europa) e na qual atua pelo New South Wales Waratahs.
Na quarta-feira 10, Folau postou em sua conta do Instagram uma imagem que dizia: “Bêbados, homossexuais, adúlteros, mentirosos, fornicadores, ladrões, ateístas e idólatras: O INFERNO AGUARDA VOCÊS! ARREPENDAM-SE! SÓ JESUS SALVA!” — a caixa alta é dele. Folau é fiel fervoroso da Assembleia de Deus, a vertente evangélica neopentecostal que tem um de cada 20 brasileiros como fiéis, mas com baixíssima penetração na Austrália.
O atleta tem um histórico de comentários negativos sobre homossexuais — em 2017, fez campanha pelo “não” no plebiscito nacional sobre o casamento entre pessoas de mesmo gênero. Seu último comentário veio na esteira de uma lei no estado da Tasmânia, cujo Legislativo aprovou que a opção de gênero nas certidões de nascimento passa a ser opcional.
No dia anterior, Folau postou: “O demônio tem cegado tanta gente no mundo, ARREPENDA-SE e afaste-se de seus caminhos do mal. Vire-se a Jesus Cristo que vai te libertar”.
As opiniões de Israel Folau contra homossexuais fere as diretrizes que a organização da modalidade exige dos atletas. Na quarta-feira 10, após as postagens, Raelene Castle, a chefe-executiva do Rugby Australia, e Andrew Hore, o chefe-executivo do Rugby Union do estado de Nova Gales do Sul, emitiram um comunicado em conjunto: “Queremos deixar claro que a maneira como ele (Israel Folau) se expressou é inconsistente com os valores do esporte. Queremos deixar claro que ele não fala pela modalidade em suas recentes postagens”. E concluíram: “Na ausência de fatores atenuantes convincentes, é nossa intenção encerrar o seu contrato”.
No rugby australiano, diferente do que conhecemos no futebol, o atleta tem contrato e obedece à liga que gere a competição.
A decisão termina compulsoriamente a carreira de um dos principais atletas do rugby australiano a menos de quatro meses para a Copa do Mundo do Japão, no qual ele seria um dos grandes nomes. Israel Folau tem a curiosa característica de ter jogado em três modalidades diferentes. Iniciou a carreira no Rugby League (o irmão menos popular do Union, com muita abrangência na Austrália) e migrou para o Futebol Australiano, uma espécie de rugby com manchetes de vôlei disputado em campo oval). Tornou-se um atleta do Rugby Union somente em 2013, já com 24 anos.
Mas a discussão vai muito além do esporte e já gera um debate de extremos na Austrália. A expectativa é de que Folau, que recentemente declarou que sua “fé é mais importante que sua carreira e sempre será”, alegue ter sido religiosamente discriminado, contra a versão da Rugby Union de que o problema não é religioso, e sim de discriminação contra uma minoria. Os próximos capítulos devem ocorrer nos tribunais.
Fonte: Yahoo
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